uma grande história
A minha relação com a fotografia começou na adolescência, quando usava a minha pequena câmera digital com sei lá quantos megapixels para fotos bonitas para colocar no perfil do orkut ou do msn. Me arrumava todinha, tirava zilhares de fotos para escolher apenas uma.
Um trabalho de autoestima que eu não tinha nem noção que era isso, à época. Mas foi o que me levou a descobrir um universo novo e a despertar um lado criativo que comecei a explorar timidamente, porque tinha vergonha de que as pessoas vissem eu fazendo isso e também tinha vergonha de pedir para que posassem para mim. Com o que consegui criar, ia compartilhando no Flickr e entendendo que gostava disso e do universo da moda, descobrindo inúmeras pessoas autodidatas, como eu, que tinham trabalhos lindos e vários dos grandes nomes que pairam esse universo.
Fui crescendo e levando isso comigo, mas houve uma hora que escolhi dar foco para a vida profissional para a qual todos os artigos acadêmicos e seminários que apresentei me direcionavam. E, para fechar a tampa da caixa, ainda me roubaram a câmera que ganhei do meu pai.
Levou bastante tempo para eu voltar à ela e entender o espaço que ela tinha na minha vida. Inclusive essa própria ação que meu pai fez, passou despercebida por mim porque achava que ninguém percebi esse então hobby-mais-que-presente no meu dia a dia. E, então, para voltar à prática, vi nas câmeras analógicas uma solução mais em conta (eu achava, porque, na real, não é) e que me abriu outro mundo. Processo, cores, informações… muita coisa.
Mas só depois de uma entrevista de emprego que não passei, muitos questionamentos quanto à publicidade e uma crise de ansiedade na pandemia, que realmente abri um espaço. Espaço para fazer as coisas que gosto de fazer e descobrir outras. Há anos, vinha apenas dando foco para ambições profissionais que esqueci que o lazer é tão importante quanto. Principalmente num mundo onde, se não ficarmos atentos, a gente só produz.
Nisso, tenho tentado olhar espaço para a fotografia com mais atenção porque por muito tempo fiquei afastada dela por causa de trabalho. Olhando para trás, vejo que foi algo que deixei de lado muito por pressão social, porque não era um caminho que me daria dinheiro e me deixaria dignamente em pé. É uma audácia filho de pobre querer ser artista… e foi uma audácia eu querer ser publicitária também.
Por mais que pareça doido falar isso, te juro: a minha turma de não sei quantos colegas de classe, acho que só se formaram uns quatro em humanidades. Não é como se eu fosse incentivada a. Só foi o mais próximo de profissional que eu achei que comportava os interesses que eu tinha (essa foi a parte racional da escolha que eu conto para não parecer impulsiva demais).
Desde o ano passado, então, venho fazendo um exercício de praticar a fotografia para dar vazão as vontades criativas do meu corpo e da minha mente. Para que eu não me fruste mais com coisas que não fiz. como uma afirmação de que nossos interesses devem ter espaço considerável em nossa vida, para cultivo, entendimento e desistência, se for o caso. Como é com nosso trabalho.
E ela traz um lugar criativo que me faz desbloquear memórias, conectar com temáticas que tenho apreço, me questionar mais, pesquisar mais e arregaçar as mangas para me conectar com outras pessoas e produzir imagens que tentem traduzir as coisas que penso, que acho importantes, bonitas, interessantes, feias, feias-mas-nem-tanto, misteriosas, reais, não-reais, e o que mais der para fazer e der vontade.
Para a materialização de algumas ideias é necessário ter uma pessoa que acredite na mesma coisa que você. Algumas coisas conseguimos fazer sozinhos, outras, muitas, nem tanto. Me juntei com a Dandara, no final do ano passado para produzirmos as imagens que estão nesse post. Imagens que contem um pouco de onde viemos, onde crescemos, para onde olhamos, para onde voltamos e de onde seguimos buscando e acreditando em outros dias.
Espero que gostem :)